Minha primeira visita pastoral foi a primeira que fiz quando era um jovem pastor.
Meu caso não era único na época e nem o é hoje. Estou certo de que
muitos de vocês irão se identificar com a minha experiência. De fato, muitos
leitores não reconhecerão que estavam sendo privados de algo que era uma parte
essencial da experiência da igreja. Em nossos dias, o trabalho pastoral
é absurdamente negligenciado. Muitos pretensos pastores enchem suas
vidas de assuntos administrativos ou acadêmicos de forma que eles possuem pouco
tempo para as pessoas do rebanho. Outros têm igrejas tão grandes que não
conseguem sequer começar a pastorar os membros de suas
congregações. Cada vez mais, esses homens abordam a supervisão
congregacional como se fossem o Chefe do Poder Executivo. Mas, mesmo em nossas
pequenas igrejas reformadas, o ministro frequentemente negligencia o importante
trabalho de pastorear. Muitos membros de igreja somente
recebem visita quando estão doentes (e olhe lá). Não podemos
saber a condição de nosso rebanho ou ministrar efetivamente a ele sem fazer
cuidadosamente o trabalho de visitação às famílias. Além
disso, esse trabalho é necessário para a cimentação da verdade e de seus
resultados na vida das pessoas.
Historicamente, a visitação pastoral é parte do
trabalho esperado de um pastor de verdade. Nossos pais na fé
levaram essa parte do trabalho ministerial muito a sério. Certo pregador por
nome de Packer a muitos anos atrás escreveu: Sabendo
as maneiras pelas quais o Espírito traz pecadores à fé e à nova vida em Cristo,
e pelas quais guia os santos, por um lado, a crescerem à imagem de seu Salvador
e, por outro, a aprenderem a serem totalmente dependentes da graça, os Cristãos
se tornaram esplêndidos pastores. A profundidade e unção de suas
exposições “práticas e experimentais” no púlpito não eram mais marcantes que a
habilidade do estudo da aplicação do remédio espiritual para as almas doentes. Por
meio da Escritura, eles mapearam o frequente confuso terreno da vida de fé e
comunhão com Deus com grande profundidade (veja ‘O Peregrino’ como um
dicionário ilustrado), e a agudeza e sabedoria deles em diagnosticar algum mal
estar espiritual e em utilizar o remédio bíblico apropriado era excepcional.
Desde meu inicio ministerial há mais de 25 anos atrás sempre aprendi, e
hoje ensino que: É dever do ministro não apenas
corrigir as pessoas confiadas a seu cuidado em público, mas, também, em
particular; especialmente admoestar, exortar, repreender e confortá-las em
todas as ocasiões, enquanto seu tempo, sua força e sua segurança pessoal o
permitirem. Ele deve admoestá-las em tempo de saúde, para prepará-las para
morte. E. para esse propósito, elas frequentemente vão conferir com seus
ministros como está o estado de suas almas. E, no tempo de doença, para ouvirem
seus conselhos e pedir ajuda, oportuna e periodicamente, antes que suas forças
e compreensão falhem com eles.
Um pastor moderno recentemente falou
sobre a visitação pastoral: “Há quatro maneiras em que os seres humanos
aprendem: ouvindo, discutindo, assistindo e descobrindo. Alguém pode chamá-las
também de audição, conversação, observação e participação. O primeiro é mais
direto, da boca para o ouvido, do orador para o ouvinte, e, claro, inclui a
pregação. Mas nem sempre é, de forma alguma, o mais efetivo. ‘A maioria das
pessoas acha difícil entender conceitos de forma puramente verbal…'” 3.
Em um livro mais recente, ele afirmou que a visitação pastoral
é uma maneira de o ministro preencher a lacuna entre sua congregação e a
segurança das verdades que ela ouviu no púlpito: “E temos de deixar as pessoas
falarem conosco. Não há uma maneira mais rápida de preencher o abismo entre o
pregador e as pessoas do que encontrá-las em suas casas e em nossas casas. O
pregador eficiente é sempre um pastor diligente. Somente se ele achar tempo toda semana para tanto visitar
as pessoas como entrevistá-las, ele será capaz de estar em contato com elas
enquanto prega”.
O principal texto que exige o cuidado pastoral é Atos 20.28. Paulo, no contexto do seu exemplo de ensinar
privativamente de casa em casa, encarregou os presbíteros: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre
o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a
igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20.28).
A igreja tem interpretado tradicionalmente que esse mandamento inclui
a visita familiar. Richard Baxter nos deu a clássica aplicação
desse texto em seu trabalho de visitação familiar, O Pastor Reformado. Baxter
(1615-1691) foi um pastor por excelência, cujo ministério Deus abençoou grandemente.
Ele pastoreou a Igreja de Kidderminster, em 1641-42 e depois, de
novo, após a Guerra Civil Inglesa, em 1647-61. Kindderminster era uma cidade
com cerca de 800 lares e 2000 pessoas. Por quase todas as partes, as pessoas
eram espiritualmente desamparadas. Packer descreve o efeito de seu ministério
no meio deles:
“Eles
eram um povo ignorante, rude e beberrão quando Baxter chegou, mas isso mudou
drasticamente. ‘Quando iniciei meus trabalhos, observei todos aqueles que eram
humildes, reformados ou convertidos. Mas com o desenvolver do trabalho, aprouve
a Deus converter tanta gente, que eu não conseguia ter tempo para tais
observações… famílias e um número considerável de uma só vez… chegavam e
cresciam e eu sequer sabia como’. ‘A congregação estava sempre cheia [a igreja
comportava 1000], então tivemos de construir cinco galerias… Nos dias do
Senhor… você conseguia ouvir centenas de famílias cantando salmos e repetindo
os sermões enquanto passava pelas ruas… quando cheguei lá pela primeira
vez, havia apenas uma família por rua que adorava a Deus e o chamava pelo nome,
quando fui embora, havia algumas ruas onde não havia sequer uma família que não
fazia isso’. ‘Mais tarde, Baxter escreveu:
‘entretanto, estou a cerca de seis anos longe deles e eles têm sido atacados
com calúnias vindas do púlpito e difamações, ameaças e prisões, com
palavras aliciadoras e raciocínios sedutores, mas eles rapidamente se opuseram
e mantiveram sua integridade. Muitos foram para Deus, outros foram removidos,
outros estão na prisão, e, a maioria, ainda está em casa. Mas nenhum sobre os
quais eu ouço caíram ou abandonaram a retidão (Baxter está descrevendo o que
aconteceu durante a Grande Expulsão)’. Quando, em dezembro de 1743, George
Whitefield visitou Kidderminster, ele escreveu a um amigo: ‘eu fui grandemente
revigorado em encontrar o doce aroma da doutrina, trabalho e disciplina do
senhor Braxter, os quais permanecem até hoje’.
Em meio a outros deveres, duas vezes por semana, Baxter fazia a visitação familiar.
Ele também ensinava e encorajava seu povo a vir a ele com seus problemas. E
Baxter começou a inspirar outros ministros com a sua visão.
Os membros da Worcentershire Ministerial Association convidaram
Baxter a falar a eles sobre catequese paroquial e visitação. Por
problema de saúde, ele não pôde falar no dia combinado, então ele expandiu a
mensagem e a publicou no livro The Reformed Pastor. Ele usa a palavra “reformado” não para se referir à doutrina, mas ao
arrependimento ministerial e renovação. Ele escreveu, “Se Deus ao menos
reformasse o ministério e os colocasse em suas obrigações zelosamente e
fielmente, as pessoas certamente seriam reformadas”.6 O tratado
é baseado em Atos 28.26. Sua doutrina era: “os pastores ou bispos
da igreja de Cristo devem ter grande cuidado consigo mesmos, com todos dos seus
rebanhos, em todas as áreas do trabalho pastoral”.
Na Dedicatória do seu livro, ele
expõe os motivos do dever do cuidado pastoral:
- Que as pessoas devem ser ensinadas sobre os
princípios da fé. As questões da grande necessidade de salvação são
dúvidas passadas em nosso meio.
- Que elas devem ser ensinadas da forma mais
edificante e vantajosa possível. Espero que concordemos com isso.
- Que a conferência pessoal, e o exame, e a
instrução possuem muitas vantagens excelentes para o bem deles, isso não é
mais motivo de discussão.
- Que a instrução pessoal nos é recomendada pela
Escritura, e pela prática dos servos de Cristo, e aprovada pelos piedosos
de todos os tempos, é, até onde eu sei, sem contradição.
- Não há mais dúvida que devemos exercer esse
grandioso dever a todas as pessoas ou a tantas quanto pudermos fazê-lo,
para que nosso amor e cuidado por suas almas possam ser estendidos a
todos. Se há quinhentas ou mil pessoas ignorantes em sua Igreja ou
congregação, então você está fazendo um pobre exercício do seu dever ao
conversar de vez em quando com algumas poucas pessoas, deixando as demais
sozinhas em sua ignorância, enquanto você podia ajudá-las.
- Não é com menos certeza que um trabalho tão
grandioso como esse deva tomar uma parte considerável do seu tempo. Por último,
é igualmente certo que todos os deveres devem ser feitos com ordem, o
quanto for possível, e, por isso, devem ter hora marcada.
Se você não leu o livro, eu o encorajo a fazê-lo. Como mencionei, Baxter
separava dois dias por semana, terças e quartas, para realizar esse trabalho. Dessa
forma, Baxter visitava por volta de 15 famílias por semana.
Com a abordagem de Baxter, nós aprendemos uma particular quantidade de
lições sobre cuidado pastoral.
Primeiro, temos de organizar nossa igreja para esse trabalho. Essa
organização consiste tanto em instrução como em divisão da congregação. A
congregação precisa ser instruída do benefício desse trabalho. Baxter aponta
que nós temos de treinar “as pessoas a se submeterem a esse curso particular de
catequese e instrução; se elas não vierem a você ou permitirem você ir a elas,
o que de bom elas recebem?”.8 Esse treinamento começa com o
ministro agindo de uma maneira com que as pessoas de sua congregação saibam que
ele as ama e que faça com que elas o amem. Quando essa afeição mútua for
estabelecida, pregue sobre a necessidade e os benefícios da visitação pastoral.
O ministro precisa alistar e treinar os obreiros nesse trabalho. A
falha do método de Baxter foi não envolver os obreiros. Ele não se utilizava
deles, mas eles também eram líderes do rebanho que deveriam responder a Deus
sobre sua administração. Um obreiro bíblico é muito mais do que um tomador de
decisões; ele é um Pastor quer seja consagrado, ou não, na nossa Igreja
temos a seguinte frase, NO ESPAÇO PENTECOSTAL, CADA CASA É UMA IGREJA E CADA
MEMBRO É UM LIDER. Nós precisamos motivá-los e treiná-los para esse trabalho.
Esse treino deve consistir em explicar os deveres e princípios bíblicos
de como se deve conduzir uma visita. Ministros devem levar os Obreiros
consigo com o fim de eles aprenderem a lidar com uma visita pastoral.
Com respeito a visita em si, tenha em mente que ela
é pastoral. O pastor deve visitar as casas da pessoas socialmente, mas a visita pastoral é para inquirir sobre o bem estar espiritual da família. Comece
a visita com uma oração e leitura da Escritura. Se houver
criança na casa, vá a cada uma delas primeiro e pergunte se elas estão
confiando em Cristo e procurando obedecê-lo. Elas leem a Bíblia e oram? Elas
estão lutando contra seus pecados particulares? Como elas estão indo na escola?
Os pais estão catequizando suas crianças? Quais livros os pais leram
recentemente? Eles estão tirando proveito dos sermões? Como eles estão se
utilizando dia do Senhor? Quais são suas principais lutas e tentações? Como
eles se relacionam com a família (marido e esposa; pais e filhos)? Eles possuem
alguma preocupação ou dúvida sobre a igreja? Conclua a visita com
uma breve exortação bíblica e com uma oração.
Lembre-se de tomar notas a cada visita. Elas irão ajudá-lo a
orar mais especificamente por cada um e refrescarão sua memória na próxima vez
que você os visitar.
Uma palavra aos ministros. Nós ouvimos muito, e ainda bem que sim, sobre
igrejas comprometidas com os meios de graça. Pois eu digo que se em seu
ministério não há espaço para uma sistemática visitação pastoral,
então você está negligenciando um importante meio de graça. Eu desafio
você a repensar sua filosofia ministerial. Se você não tem feito
regulares visitas pastorais, eu encorajo você a se
arrepender e a buscar pela graça de Deus para começar imediatamente. Deus
alertou em Ezequiel 34.1-10 que ele irá cobrar os pastores que
falham em pastorear o rebanho. (cf. Jer. 23.1-2, 1 Pedro 5.1-4).
Além disso, treine seus Obreiros a se juntarem a você nesse importante
trabalho. Alguns contestam dizendo que a visita aos lares não é
aceitável em nossa cultura. A questão que devemos responder é “isso é uma
exigência bíblica”? Se sim, então treine a si, a seus Obreiros e a sua
congregação.
Se você é membro de uma congregação e não recebe visitas pastorais,
eu encorajo você a requisitar uma. Que Deus restaure hoje esse ministério
perdido em nossas igrejas.
Agradeço minha Oportunidade
Wagner Teruel
Nenhum comentário:
Postar um comentário