As Lágrimas do Redentor
“E quando ia chegando, vendo a cidade,
chorou sobre ela, dizendo: Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu
dia, o que à tua paz pertence! Mas, agora, isso está encoberto aos teus
olhos." (Lc 19.41,42)
TEMOS
aqui ama lamentação compassiva em meio a um triunfo solene. Está escrito
que Ele viu a cidade e chorou sobre ela. Duas coisas concorreram para compor a
causa desta tristeza — a grandeza da calamidade: Jerusalém, outrora tão
querida por Deus, devia sofrer, não uma cicatriz, mas uma ruína. 'Porque dias
virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te
sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas, e te derribarão, a ti e a teus
filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois
que não conheceste o tempo da tua visitação" (Lc 19.43,44). E a
oportunidade perdida de evitar isso: "Ah! Se tu conhecesses também, ao
menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas, agora, isso está encoberto
aos teus olhos" (Lc 19.42). E, novamente: "Pois que não conheceste o
tempo da tua visitação" (Lc 19.44).
Em
primeiro lugar, a calamidade era maior aos seus olhos do que aos nossos. Sua
mente ampla e inclusiva podia captar a extensão deste caso triste. Nossos
pensamentos não alcançam tal distância; não obstante, podemos apreender o que
tornou este caso tão deplorável. Podemos considerar Jerusalém como a cidade do
grande Rei, onde estava o palácio e o trono da majestade do céu, escolhendo
"habitar com os homens na terra” Aqui. a luz e glória divinas há muito
brilhavam; aqui estava a Sbequinah sagrada, o lugar da habitação do
Altíssimo, os símbolos da sua presença, o lugar da adoração, o propiciatório, o
lugar de receber petições e de dispensar favores: "A casa de oração para
todas as nações". Para seu povo, esta era a cidade das solenidades, onde
as tribos subiam, as tribos do Senhor, até o testemunho de Israel, para dar
graças ao nome do Senhor; pois ali estava o trono do julgamento, o trono da
casa de Davi. Davi que era tão grande amante da alma dos homens, tão grato e
querido tinha sido ao seu coração o lugar onde, pela sucessão de muitas eras
passadas, o grande Deus usou (embora mais obscuramente) para revelar suas
amáveis propensões aos pecadores, para manter tratados solenes com eles, para
se fazer conhecido, para atrair e fascinar almas à sua própria santa adoração e
conhecimento. E agora o horrível prospecto se mostra da desolação e ruína,
pronto para subjugar toda essa glória e devastar as habitações do amante divino.
Sua tristeza deve ser concebida à proporção da grandeza desta mudança
devastadora.
Em
segundo lugar, a oportunidade de prevenção foi perdida. Houve uma oportunidade:
Jesus foi enviado "às ovelhas perdidas da casa de Israel". Ele foi a
eles como pessoas que lhe pertencem. Tivessem eles O recebido, que lugar alegre
Jerusalém teria sido! Quão gloriosos teriam sido os triunfos de Deus se eles
tivessem se arrependido, crido, obedecido! Estas eram as coisas que pertenciam
"à tua paz"; esta era a oportunidade, o "tempo da tua
visitação". Estas eram as coisas que poderiam ter sido feitas naquele dia,
mas agora era muito tarde; o tempo se esgotara, e as coisas da paz foram
ocultas aos seus olhos. Quão ardente era o seu desejo de que eles tivessem feito
o contrário, de que eles tivessem tomado o curso sábio e seguro.
Podemos
resumir o significado e sentido destas palavras: É coisa em si mesma muito
lamentável e muito lamentada pelo nosso Senhor Jesus, quando o povo vive sob o
Evangelho, tem um dia de graça e uma oportunidade de saber as coisas que
pertencem à paz, e desgasta esse dia e perde a oportunidade de tal maneira que
as coisas da paz são escondidas totalmente dos seus olhos. Temos estas
distintas divisões de discurso a serem consideradas e nas quais insistimos.
I. Quais são as coisas necessárias a serem
conhecidas pelos que vivem sob o Evangelho, que são pertencentes à sua paz?
Mais
particularmente, vamos inquirir: o que são essas coisas em si mesmas e que tipo
de conhecimento delas é o que se quer e são necessários aqui.
Quais
são as coisas que pertencem à paz de um povo que vive sob o Evangelho? As
coisas que pertencem à paz do povo não são as mesmas com todos. Viver ou não
sob o Evangelho faz diferença considerável na questão. Antes da encarnação e
aparição pública de nosso Senhor, nada mais era necessário entre os judeus que
depois se tornou necessário. Antes, era-lhes suficiente crer num Messias por
vir, mais indefinidamente. Depois, Ele claramente lhes afirma: "Se não
crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados" (Jo 8.24). Crer em
Cristo
não pode ser necessário a pagãos que nunca ouviram falar dEle, como um dever,
embora seja necessário como um meio. O fato de eles não crerem em Cristo não
pode ser em si pecado, embora por meio disso eles queiram remediar os outros
pecados. Porém isto diz respeito mais a nós que vivemos sob o Evangelho a fim
de apreendermos corretamente o que nos é necessário. O Evangelho nos encontra
num estado de apostasia de Deus, como nosso Rei soberano, não aptos a obedecê-lo
e glorificá-lo, como o primeiro, nem desfrutarmos dEle e sermos satisfeitos
nEle, como o último. O arrependimento para com Deus cura e remove este desafeto
de nossa mente e coração em relação a Ele sob ambas estas noções. Por meio
disso, a alma se volta a Ele, com esta sensação e resolução: "Fui rebelde
e desleal contra a autoridade superior e o seu governo mais legítimo que me deu
vida e cuja criatura sou eu. Não mais viverei assim. Agora me volto a ti, oh
Senhor; tu és o meu Senhor c Deus. A ti agora escolho servir e obedecer como o
Senhor de minha vida. Em ti está o meu temor, a ti me sujeito a não mais viver
segundo a minha vontade, mas a tua".
II. Tal como viver sob o Evangelho tem um
dia ou oportunidade presente para a obtenção do conhecimento destas coisas que
pertencem imediatamente à paz e de tudo o mais que seja necessário.
Não
digo nada sobre que oportunidades tiveram os que nunca viveram sob o Evangelho,
os quais, sem dúvida, podem saber mais do que fazem e conhecem melhor o que
realmente sabem. É-nos suficiente saber quem desfruta o Evangelho para entender
nossas vantagens, Nem, quanto àqueles que o desfrutam, é o dia de cada um de
clareza igual. Quão poucos em comparação já viram tal dia como Jerusalém neste
momento viu, feito pelos raios do Sol da Justiça, nosso próprio Senhor
oferecendo-se para ser o instrutor deles, falando como nenhum homem falou com
tal autoridade que excedeu de longe os outros mestres e surpreendeu seus
ouvintes. Em que arroubo Ele usou para deixar os que o ouviam, sempre que Ele
vinha, pois eles se maravilhavam com as palavras graciosas que saíam da sua
boca. Com que obras poderosas e benéficas Ele recomendou sua doutrina, brilhando
no poder glorioso e saboreando da abundante misericórdia do céu, para que toda
mente apreensiva pudesse ver a divindade encarnada. Deus desceu para trabalhar
com os homens e fasciná-los com o seu conhecimento e amor. Por muitos anos não
se viu dia como esse. Contudo, onde quer que o mesmo Evangelho vá, ali também
se faz um dia do mesmo tipo e sempre proporciona a verdade, embora com luz
diminuída, por meio da qual as coisas de nossa paz são entendidas e conhecidas.
Por exemplo:
2.1. Temos o estado verdadeiro e distinto da
disputa entre Deus e nós. Os pagãos entendiam um pouco da apostasia do homem de
Deus, de modo que Ele não está no mesmo estado em que estava no princípio. Mas
ainda que entendessem que algo fora perdido, mal conseguiam dizer o quê. O
Evangelho revela a depravação universal da natureza degenerada de todos os
homens e de toda faculdade humana. O Evangelho pleiteia com os homens como
rebeldes contra o seu legítimo Senhor. Mas desta traição contra a majestade do
céu, os homens pouco suspeitam até que lhes seja dito. O Evangelho lhes fala
tão claramente e representa o assunto em luz tão clara, que eles só precisam se
contemplar nessa luz para que vejam que assim é. Os homens bem que podem, se
quiserem, criar sem pestanejar escuridão entre a mais clara luz. Mas abra seus
olhos, homem, você que vive sob o Evangelho, ponha-se a ver sua alma e você
descobrirá que é dia para você. Você tem um dia, estando sob o Evangelho, e luz
o bastante para ver que esta é a postura da sua alma e o estado do seu caso
diante de Deus. E é de grande importância entender as coisas referentes à sua
paz. para saber qual é o verdadeiro estado da disputa entre Deus e você.
2.2. O
Evangelho proporciona luz para saber qual é o assunto desta disputa, se ela
prosseguir e não houver reconciliação. Dá-nos outros relatos mais claros do
castigo do outro mundo, o qual representa mais completamente a extremidade e
perpetuidade das misérias futuras. Estes relatos nos ajudam a entender que
acréscimo os hábitos inalterados e malignos dos homens trarão às suas misérias.
Suas concupiscências e paixões ultrajantes, que aqui eles fizeram seu negócio
de satisfação, tornaram-se seus atormentadores insaciáveis. Cada um receberá
"segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal" (2 Co
5.1O). "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6.7). O
que suas próprias reflexões culpadas contribuirão, as mordidas e suplício dos
vermes que não morrem, as corrosões venenosas da víbora criada em seus seios,
agora tornam-se serpente adulta; que sociedade e insulto dos demônios, com
quem eles devem participar das aflições e tormentos, e por quem foram seduzidos
e treinados nessa sociedade e comunhão amaldiçoadas.
2.3.
Também representa Deus para você como reconciliável por um Mediador. Nesse
Evangelho, a paz lhe é pregada por Jesus Cristo. Esse Evangelho deixa você ver
Deus em Cristo, que reconcilia o mundo com Ele. que o pecado pode não ser
imputado a eles. Esse Evangelho proclama glória a Deus nas alturas, paz na
terra, boa vontade aos homens. Assim as vozes dos anjos resumiram as alegres
novas do Evangelho, quando o Príncipe da Paz nasceu no mundo. "Deus não
deseja a morte dos pecadores, mas que eles se voltem e vivam"; de modo que
Ele "quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da
verdade" (1 Tm 2.4).
III. Este dia tem suas fronteiras e
limites, de forma que quando terminar e estiver perdido como oportunidade, as
coisas da paz são escondidas para sempre dos seus olhos. Que este dia não c
infinito e interminável, vemos na instância atual.
Jerusalém
teve seu dia; mas esse dia teve seu período. Vemos que finalmente chega a esse
ponto, que agora as coisas da paz estão ocultas aos olhos dela. Vemos geralmente
a mesma coisa, quando os pecadores são tão seriamente pressionados a fazer uso
do tempo presente. "Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração"
(SI 957,8), e citado c exortado em Hebreus 3.8. Eles são admoestados a buscar o
Senhor enquanto Ele pode ser encontrado, a chamá-lo enquanto Ele está perto. Às
vezes, parece que Ele não será encontrado e está bem longe. É-lhes dito que
este é o tempo aceitável, este é o dia da salvação.
Este
dia, com qualquer lugar ou povo, pressupõe uma noite precedente, quando a
aurora nas alturas não lhes tinha visitado o horizonte e todos se sentavam na
escuridão e na região e sombra da morte. Houve um tempo, sabemos, de escuridão
muito geral, quando o dia do Evangelho, 'o dia da visitação", não tinha
ainda amanhecido no mundo, tempos de ignorância, em que Deus foi tolerante para
com as nações da terra; os raios dos seus olhos passaram além delas. Mas quando
as pálpebras da manhã se abrem sobre um povo e a luz brilha sobre eles com
raios diretos, eles recebem a ordem de se arrependerem. Eles são limitados a
este ponto do tempo com tal peremptoriedade, como aquele nobre romano usou para
com um príncipe orgulhoso, pedindo tempo para deliberar na proposta que lhe
fora feita de retirar as forças que molestavam alguns dos aliados daquele
Estado. Com a ponta da vara, ele desenhou uma linha em torno de si e exigiu
que, antes que se mexesse para sair daquele círculo, o príncipe fizesse sua
escolha, se seria amigo ou inimigo do povo de Roma. Assim os pecadores devem
entender a seriedade da situação em que se encontram. O Deus da sua vida,
pecador, em cujas mãos estão os tempos, traça com muito mais acerto o seu
limite ao tempo presente, e espera sua resposta às ofertas e exigências justas
e misericordiosas que Ele faz. Ele circunscreve o seu dia da graça; está
incluso em ambas as partes, e tem uma noite como também uma manhã; como teve um
precedente, assim tem uma noite subseqüente. e o último, se não for mais
escuro, é normalmente muito mais turbulento que o primeiro. Deus encerra esse
dia com muito desgosto, o qual tem efeitos terríveis. Se não fosse
expressamente dito a você qual é a condição daquela noite que segue o dia do Evangelho;
se fosse perguntado ao vigilante: "Que noite?", ele só responderia
que vem como também a manhã veio, eventos tenebrosos são significados por esse
mais terrível silêncio. Ou é tudo um, se você o chamar de um dia; há o
bastante para distingui-lo do dia da graça. As Escrituras chamam tal
estação calamitosa indiferentemente pelo nome de noite ou dia-, mas o fato de o
último nome ser usado com um ou outro suplemento para significar dia, não quer
dizer no sentido agradável ou mais grato: um dia da ira, um dia mau, um dia de
escuridão e trevas espessas, não diferindo da noite mais escura; e para dizer
que a manhã de tal dia está vindo, é tudo um como a noite que vem de um dia
brilhante e de um dia sereno.
3.1. Que há grande diferença entre os fins e limites
do dia ou estação da graça quanto a indivíduos em particular e em referência
ao corpo coletivo de um povo que habita determinado lugar.
3.2. Quanto a ambos há uma diferença entre o fim
de tal dia, intermissões ou intervalos escuros que possam haver nele. O
Evangelho pode ser retirado de tal povo e ser restaurado.
3.3.
Quanto a indivíduos em particular, pode haver muita diferença entre eles. Por
exemplo, se, quando viviam sob o Evangelho, obtiveram o conhecimento das
principais doutrinas ou da suma ou substância do Cristianismo, embora sem
qualquer efeito santificador ou impressão em seus corações, e se, por
negligência própria, viveram sob o Evangelho em total ignorância desse fato. O
dia da graça pode não ter terminado para o primeiro grupo, embora nunca vivam
novamente sob o ministério do Evangelho. Considerando que, com o outro tipo,
quando esses indivíduos já não desfrutam os meios externos, é provável que o
dia da graça haja terminado, de forma que não haja mais esperança no caso deles
do que no dos pagãos nas regiões mais escuras do mundo; e talvez muito menos,
como sua culpa tem sido muito maior pela negligência de tão grandes e
importantes coisas.
IV. Se com qualquer um que viveu sob o
Evangelho, o seu dia acabou, e as coisas da paz estão agora para sempre ocultas
dos seus olhos.
Isto
em si mesmo é caso muito deplorável e muito lamentado por nosso Senhor Jesus.
Que o caso é em si mesmo muito deplorável, quem não vê? Uma alma perdida, uma
criatura capaz de Deus, a caminho dEle, perto do Reino de Deus, naufragado no
porto! Pecador, de quão alta esperança você caiu! Em que profundidade de miséria
e aflição! E o fato de que foi lamentado por nosso Senhor está no texto. Ele
viu a cidade e chorou sobre ela.
E
agora consideraremos que uso devemos dar a tudo o que vimos. Embora nada possa
ser útil aos próprios indivíduos, a quem o Redentor lamenta como perdidos,
contudo o que Ele faz pode ser de grande proveito para os outros.
O
proveito que, em parte, dirá respeito àqueles que o apreendem corretamente, não
é o caso deles, e, em parte, tal pode ser em grande temor que seja.
Pois
terem razão de se persuadir não é o caso: A melhor base sobre a qual podemos
concluir com certeza, é que nesse dia, eles, pela graça de Deus, já conheceram
efetivamente as coisas da sua paz, pois sinceramente, com todo o coração e
alma, se voltaram para Deus, tomaram-no para ser o seu Deus e se dedicaram a
Ele, a fim de serem dEle; confiando e sujeitando-se à misericórdia salvadora e
poder governante do Redentor, de acordo com o sentido do concerto do Evangelho,
do qual eles não deixam que seu coração se desvie ou recuse, mas resolvem, com
a ajuda divina, perseverar nele todos os dias. Agora havendo chegado a esta
confortável conclusão sobre essas coisas, só me resta dizer:
Regozije-se
e queira Deus que assim seja. Cristo, seu Redentor, regozija-se com você e em
você, o que se deduz diante de sua indignação quanto aqueles que estão sem
esperança. Se Ele chora sobre eles, Ele, sem dúvida, regozija-se em você. Há
alegria no céu em relação a você. Os anjos se regozijam, o seu Redentor
glorioso presidindo no concerto jovial. E você não se regozijaria por você
mesmo?
Porte-se
com esse cuidado, cautela e zelo, que tornam-se um estado de reconciliação.
Perceba que sua atual paz e amizade com Deus não é original e contínua a partir
disso, mas foi interrompida e partida; que sua paz não c a das pessoas
constantemente inocentes. Você não está neste estado bom e feliz, porque nunca
ofendeu, mas está na qualidade de reconciliado, que outrora era inimigo. E
quando, em sua vida, você chegou ao conhecimento das coisas que pertencem à
paz, você sentiu a dor e experimentou a amargura de ter sido apartado e feito
inimigo em sua mente pelas más obras. Quando os terrores de Deus o cercaram e suas
setas cravaram em você em rápida sucessão, você não encontrou dificuldade e
tristeza? Você não estava em expectativa temerosa de ira e ardente indignação a
ponto de consumi-lo e queimá-lo como adversário? Você não teria dado o mundo
inteiro por uma palavra ou um olhar de paz, por alguma esperança bruxuleante de
paz? Quão cauteloso e amedrontado você estaria de uma nova brecha! O quanto
você estudaria comportamentos aceitáveis para andar digno de Deus até ficar
completamente bem aceitável! Quão estritamente cuidadoso você seria em manter
a fé com Ele e ficar firme no concerto com Ele! Quão preocupado pelos seus interesses
e em que agonias de espírito, quando você visse as erupções ou inimizade contra
Ele vindo de outra pessoa, não uma desconfiança ou medo de preconceito final
aos seus interesses, mas a apreensão da injustiça da própria coisa e um amor
obediente ao seu nome. trono e governo. Quão zeloso você seria a atrair outras
pessoas! Quão fervoroso em seus esforços dentro de sua própria esfera de ação e
quão amplo em seus desejos estendidos até à esfera do universo de que todo
joelho se dobrará e toda língua o confessará!
Mais
clamor sincero a Deus e rogos com Ele pelo seu Espírito, por quem o vital
vínculo unitivo deve ser contraído entre Deus e Cristo e suas almas. Assim,
este será o concerto de vida e paz. Senhor! O quanto os cristãos de nossos dias
se enganam com uma religião desenvolvida súbita e inesperadamente por si
mesma! Com efeito, divina em sua instituição, mas meramente humana em relação
à radicacão e exercício: em cujo aspecto também deve ser divina ou nada. Ainda
temos de aprender que um poder divino tem de trabalhar e formar nossa religião
em nós, como também a autoridade divina a dirige e a ordena? É em vão que todas
essas escrituras nos dizem que é Deus que tem de criar corações novos e renovar
espíritos retos em nós; que é Ele que tem de nos fazer voltar, se algum dia nos
voltarmos: que nunca podemos ir a Cristo a menos que o Pai nos leve? Não há
causa de desânimo, se você considerar o que foi dito antes neste discurso.
"Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis: batei, e abrir-se-vos-á"
(Lc 11.9). O seu Pai celestial dará o seu Espírito àqueles que pedirem, mais
prontamente que os pais dão pão aos filhos, e não uma pedra. Mas, e se vocês
tivessem de pedir muitas vezes e esperar muito tempo, isso apenas encareceria
mais o presente e mostraria seu alto valor. Você deve lembrar com que
freqüência você agravou, resistiu e afrontou este Espírito, e que você fez
Deus esperar muito tempo por você. O que ocorreria se o absoluto Senhor
soberano de todos esperasse que você ficasse à disposição dEle? Ele espera para
ser gracioso, e benditos são os que esperam por Ele. Renove suas aplicações a
Ele. Coloque, de quando em quando, esse concerto diante de você. com o qual
você mesmo deve chegar a uma plena e definitiva conclusão. E se não for feito
de uma vez, tente novamente, e vezes sem conta. Lembre-se de que é por sua
vida, por sua alma, por você. Mas não se satisfaça apenas com tais movimentos
lânguidos em seu interior, que podem ser os únicos efeitos do seu espírito, do
seu coração negro, torpe, apático, lerdo, morto, duro, pelo menos não da
influência eficaz e regeneradora do Espírito divino. Você nunca ouviu que
operações poderosas ocorreram em outros, quando Deus os transformava,
renovava-os e atraía-os em união viva consigo mesmo, e Ele mesmo por Ele? Que
surpreendente luz penetrante entrou no coração deles, como quando Ele criava o
mundo, iluminando o caos. Como Ele os fez ver coisas que dizem respeito a eles
como verdadeiramente eram, e cada um com seu próprio rosto, Deus, Cristo e
eles, pecado e dever, céu e inferno, com suas verdadeiras aparências. Quão
efetivamente foram despertos! Como os terrores do Todo-Poderoso atacaram e agarraram
suas almas! Que agonias e dores excruciantes eles sentiram, quando a voz de
Deus lhes disse: "Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os
mortos, e Cristo te esclarecerá" (Ef.5.14). Como Ele os derrubou aos seus
pés, lançou-os no pó, quebrou-os, dissipou-os, fez se humilharem, se abominarem
e se detestarem, encheu-os de tristeza, vergonha, confusão e indignação para
com suas próprias almas culpadas, habituou-os a uma severidade contra si
mesmos, até que alcançassem por si só uma maior perspicácia, como também uma
auto-acusação, auto-julgamento e auto-condenação. Ele até os fez pretender o
inferno e confessar que a porção dos demônios que lhes pertencia era sua mais
merecida porção. E se agora seus olhos tinham sido dirigidos a um Redentor, e
um brilho de esperança lhes aparecera; se agora eles são ensinados a reconhecer
o Deus que lhes diz: "Pecador, tu ainda estás disposto a se reconciliar e
aceitar um Salvador?'' Que arroubo ao qual esta pergunta os põe! É vida dentre
os mortos! O quê? Há esperança para um miserável perdido como eu? Quão doce é
esse enternecedor convite! Que agradável intimação traz consigo: "Vinde a
mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt
11.28). Se o Senhor do céu e da terra olha do trono de glória e diz: "O
quê! Pecador, tu menosprezarás meu favor e perdão, meu Filho, teu Redentor
poderoso e misericordioso, e ainda minha graça e Espírito?" — Qual será a
resposta do miserável e envergonhado, intimidado pela glória da majestade
divina, aguilhoado com compunção, vencido com a intimação da generosidade e do
amor? "Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus
olhos. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" Jó 42.5,6).
Tão interiormente é a verdade desta palavra agora sentida: "Que tu te
lembres e fiques confundido e nunca mais abras a boca por causa de tua
vergonha, quando eu sou pacificado para ti, por tudo o que fizeste, disse o
Senhor Deus". Mas pecador, você fará um concerto comigo e meu Cristo? Você
me tomará por seu Deus, e Ele por seu Redentor e Senhor? E posso, Senhor? Ainda
posso? Graça admirável, misericórdia comedida e maravilhosa por eu não ter sido
lançado no inferno com minha primeira recusa. Sim, Senhor, com todo o meu
coração e alma eu renuncio as vaidades de um mundo vazio e enganador e todos os
prazeres do pecado. Em seu favor está a minha vida. "A quem tenho eu no
céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti" (Si 7325). E,
bendito Jesus, Príncipe dos reis da terra, que me amaste e me lavaste dos meus
pecados em teu sangue, e a quem o Deus eterno exaltou para ser Príncipe e
Salvador, dar arrependimento e remissão de pecados, eu me prostro diante de ti,
meu Senhor e meu Deus; eu, aqui, de boa vontade presto minha homenagem diante
do teu trono. Eu tomo a ti como Senhor de minha vida. Eu me rendo absolutamente
e me resigno a ti. Teu amor me constrange a, daqui por diante, não mais viver
para mim mesmo, mas para ti, que morreste por mim e ressuscitaste. E eu me
sujeito e me rendo à tua bendita luz e poder, Espírito Santo da graça, para ser
cada vez mais iluminado, santificado e preparado para toda boa palavra e obra
neste mundo, e para uma herança entre os que são santificados no outro mundo.
Pecador, nunca permita que sua alma descanse até que você a encontre em comunhão
com Deus; assim você pode verdadeiramente dizer e sentir que seu coração está
nisto. Não fique cansado ou impaciente, esperando e esforçando-se, até que
você diga que este é hoje o verdadeiro sentimento de sua alma. Tais coisas
foram feitas no mundo; (mas o quanto é raro nos últimos dias!) assim Deus
trabalhou com os homens, para salvá-los de descer à sepultura, depois de haver
encontrado um resgate para eles. E por que não se espera que Ele faça isso? Ele
feriu rochas e fez as águas verterem; sua mão não está encurtada, nem seu
ouvido agravado. O perigo não é. pecador, que Ele venha a ser inexorável, mas
que você o seja. Ele deixará que você rogue, se você prevalecer suplicando seu
favor de todo o coração.
Não
jogue fora a alma e tão grande esperança por mera indolência e preguiça de
sentir um pouco de dor por sua vida. Deixe que o texto, que foi seu diretório
sobre as coisas que pertencem à paz, seja também o seu motivo, de
modo que você veja o Filho de Deus chorando sobre tais coisas como se não
soubesse delas. As lágrimas do Redentor não o comoverão? Coração duro!
Considere o que estas lágrimas importam para este propósito:
4.1.
Significam a real profundidade e grandeza da miséria na qual você está caindo.
Elas vertem de olhos intelectuais e mais abrangentes que vêem longe, penetram
profundamente as coisas, têm um prospecto amplo e grande e tomam o consolo
daquele estado abandonado para o qual os pecadores irreconciliáveis dirigem-se
às pressas, com todo o horror que isso significa. O Filho de Deus não chorou
lágrimas vãs e sem causa ou por coisa insignificante; nem esgotou lágrimas por
si mesmo ou desejou a profusão de lágrimas de outrem. "Filhas de
Jerusalém, não choreis por mim". Ele sabe o valor das almas, o peso da
culpa e o quanto isso os pressionará para baixo e os afundará; como também a
severidade da justiça de Deus, o poder da sua ira e quais serão seus terríveis
efeitos, quando finalmente caírem. Se você não entende estas coisas, creia no
Deus que o fez. Pelo menos creia nas lágrimas dEle.
4.2. Estas lágrimas significam a sinceridade do
seu amor e piedade, a verdade e ternura da sua compaixão. Você acha que suas
lágrimas são enganosas, aquEle que nunca conheceu malícia? Isso era como o
restante do seu comportamento? E lembre-se de que aquEle que derrama lágrimas,
da mesma fonte de amor e misericórdia também derramou sangue. Isso também foi
feito para enganar? Você cometeu algumas coisas realmente muito consideráveis,
se acha que valeu a pena o Deus encarnado chorar, sangrar e morrer, a fim de
ludibriá-lo numa falsa estima dEle e do seu amor. Mas se é a maior loucura
imaginável entreter tal pensamento, senão que suas lágrimas eram sinceras e não
artificiais, as genuínas expressões naturais de benignidade e piedade francas,
você deve considerar contra que amor e compaixão você está pecando, que
entranhas está repulsando. Se você perecer, é sob tal culpa que os próprios
demônios não estão sujeitos, pois nunca tiveram um Redentor que sangrasse por
eles, ou, pelo que saibamos, que chorasse sobre eles.
4.3. Estas lágrimas mostram a irreparabilidade do
seu caso, se você persistir na impenitência e incredulidade, até que as coisas
da paz sejam totalmente escondidas dos seus olhos. Estas lágrimas serão as
últimas emissões de amor (até mesmo derrotado), de amor que está frustrado de
seu terno desígnio. Você percebe nestas lágrimas as leis do céu inalteráveis e
firmes, a inflexibilidade da justiça divina, que o mantém em laços inexoráveis
e selado — se você provar-se incurávelmente obstinado e impenitente — à
perdição. Pois até o próprio Redentor, que é poderoso para salvar, não pôde,
por fim, salvá-lo, mas apenas chorar sobre você, lágrimas derramadas em chamas
que atormentam você, sem suavizá-las; mas as lágrimas (embora tenham outro
desígnio, até expressar verdadeira compaixão) ainda exacerbam e aumentam
inevitavelmente o seu fervor, e continuará assim por toda a eternidade. Ele até
chega a dizer a você, pecador:
"Tu
desprezaste meu sangue; tu ainda terás minhas lágrimas". O que teria
salvado você agora só lamenta sua perda.
Mas as
lágrimas choradas sobre outros, como perdidos e sem esperança, por que não
comoveriam você, enquanto ainda há esperança em seu caso? Se você for
efetivamente comovido em sua alma, e, olhando àquEle a quem você traspassou,
verdadeiramente chora sobre Ele, você assegura para si a perspectiva de que o
choro dEle sobre as almas perdidas não incluiu você. O seu choro sobre você
arrazoaria seu caso abandonado e sem esperança; a sua lamentação sobre Ele o
tornará seguro e feliz. Que seja assim, e considere ainda que:
4.4.
Estas lágrimas significam o verdadeiro intento que Ele tem de salvar almas e
com que alegria Ele o salvaria, se você tão-somente aceitasse a misericórdia,
enquanto fosse possível. Pois se Ele chora sobre aqueles que não serão salvos,
do mesmo amor que é a fonte destas lágrimas, provêem misericórdias salvadoras
para aqueles que desejam recebê-las. E o amor que chorou sobre os que estavam
perdidos, o quanto glorificará sobre os que estão salvos! Ali o seu amor é
desapontado e afrontado, contraditado em seu propósito gracioso; mas aqui,
tendo-o rodeado, o quanto Ele se alegrará sobre você com cântico e descanso em
seu amor! E você também, em vez de ser envolvido com os irreconciliados
pecadores da velha Jerusalém, será citado entre os cidadãos gloriosos da Nova
Jerusalém, e triunfará junto com eles em glória eterna.
Atte.
Pr.Dr. Wagner Teruel
Nenhum comentário:
Postar um comentário