sábado, 26 de dezembro de 2015

As lágrimas do Redentor


As Lágrimas do Redentor

“E quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas, agora, isso está encoberto aos teus olhos." (Lc 19.41,42)

TEMOS aqui ama lamentação compassiva em meio a um triunfo solene. Está escrito que Ele viu a cidade e chorou sobre ela. Duas coisas concorreram para com­por a causa desta tristeza — a grandeza da calamida­de: Jerusalém, outrora tão querida por Deus, devia sofrer, não uma cicatriz, mas uma ruína. 'Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas, e te derribarão, a ti e a teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação" (Lc 19.43,44). E a oportunidade perdida de evitar isso: "Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas, agora, isso está encober­to aos teus olhos" (Lc 19.42). E, novamente: "Pois que não conheceste o tempo da tua visitação" (Lc 19.44).
Em primeiro lugar, a calamidade era maior aos seus olhos do que aos nossos. Sua mente ampla e inclusiva podia captar a extensão deste caso triste. Nossos pensamentos não alcançam tal distância; não obstante, podemos apreender o que tornou este caso tão deplorável. Podemos considerar Jerusalém como a cidade do grande Rei, onde estava o palácio e o trono da majestade do céu, escolhendo "habitar com os homens na terra” Aqui. a luz e glória divinas há muito brilha­vam; aqui estava a Sbequinah sagrada, o lugar da habitação do Altíssimo, os símbolos da sua presença, o lugar da adoração, o propiciatório, o lugar de receber petições e de dispensar favores: "A casa de oração para todas as nações". Para seu povo, esta era a cidade das solenidades, onde as tribos subiam, as tribos do Senhor, até o testemunho de Israel, para dar graças ao nome do Senhor; pois ali estava o trono do julgamento, o trono da casa de Davi. Davi que era tão grande amante da alma dos homens, tão grato e querido tinha sido ao seu coração o lugar onde, pela sucessão de muitas eras passadas, o grande Deus usou (embora mais obscuramente) para revelar suas amáveis propensões aos pecadores, para manter tratados sole­nes com eles, para se fazer conhecido, para atrair e fascinar almas à sua própria santa adoração e conhecimento. E agora o horrível prospecto se mostra da desolação e ruína, pronto para subjugar toda essa glória e devastar as habitações do amante divino. Sua tristeza deve ser concebida à proporção da grandeza desta mudança devastadora.
Em segundo lugar, a oportunidade de prevenção foi perdida. Houve uma oportunidade: Jesus foi enviado "às ovelhas perdidas da casa de Israel". Ele foi a eles como pessoas que lhe pertencem. Tivessem eles O recebido, que lugar alegre Jerusalém teria sido! Quão gloriosos teri­am sido os triunfos de Deus se eles tivessem se arrependido, crido, obedecido! Estas eram as coisas que pertenciam "à tua paz"; esta era a oportunidade, o "tempo da tua visitação". Estas eram as coisas que poderiam ter sido feitas naquele dia, mas agora era muito tarde; o tempo se esgotara, e as coisas da paz foram ocultas aos seus olhos. Quão ardente era o seu desejo de que eles tivessem feito o contrário, de que eles tivessem tomado o curso sábio e seguro.
Podemos resumir o significado e sentido destas palavras: É coisa em si mesma muito lamentável e muito lamentada pelo nosso Senhor Jesus, quando o povo vive sob o Evangelho, tem um dia de graça e uma oportunidade de saber as coisas que pertencem à paz, e desgas­ta esse dia e perde a oportunidade de tal maneira que as coisas da paz são escondidas totalmente dos seus olhos. Temos estas distintas divisões de discurso a serem consideradas e nas quais insistimos.

I. Quais são as coisas necessárias a serem conhecidas pelos que vivem sob o Evangelho, que são pertencentes à sua paz?
Mais particularmente, vamos inquirir: o que são essas coisas em si mesmas e que tipo de conhecimento delas é o que se quer e são necessários aqui.
Quais são as coisas que pertencem à paz de um povo que vive sob o Evangelho? As coisas que pertencem à paz do povo não são as mesmas com todos. Viver ou não sob o Evangelho faz diferença con­siderável na questão. Antes da encarnação e aparição pública de nos­so Senhor, nada mais era necessário entre os judeus que depois se tornou necessário. Antes, era-lhes suficiente crer num Messias por vir, mais indefinidamente. Depois, Ele claramente lhes afirma: "Se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados" (Jo 8.24). Crer em
Cristo não pode ser necessário a pagãos que nunca ouviram falar dEle, como um dever, embora seja necessário como um meio. O fato de eles não crerem em Cristo não pode ser em si pecado, embora por meio disso eles queiram remediar os outros pecados. Porém isto diz respeito mais a nós que vivemos sob o Evangelho a fim de apreender­mos corretamente o que nos é necessário. O Evangelho nos encontra num estado de apostasia de Deus, como nosso Rei soberano, não aptos a obedecê-lo e glorificá-lo, como o primeiro, nem desfrutarmos dEle e sermos satisfeitos nEle, como o último. O arrependimento para com Deus cura e remove este desafeto de nossa mente e coração em relação a Ele sob ambas estas noções. Por meio disso, a alma se volta a Ele, com esta sensação e resolução: "Fui rebelde e desleal contra a autoridade superior e o seu governo mais legítimo que me deu vida e cuja criatura sou eu. Não mais viverei assim. Agora me volto a ti, oh Senhor; tu és o meu Senhor c Deus. A ti agora escolho servir e obede­cer como o Senhor de minha vida. Em ti está o meu temor, a ti me sujeito a não mais viver segundo a minha vontade, mas a tua".

II. Tal como viver sob o Evangelho tem um dia ou oportunidade presente para a obtenção do conhecimento destas coisas que perten­cem imediatamente à paz e de tudo o mais que seja necessário.
Não digo nada sobre que oportunidades tiveram os que nunca viveram sob o Evangelho, os quais, sem dúvida, podem saber mais do que fazem e conhecem melhor o que realmente sabem. É-nos suficiente saber quem desfruta o Evangelho para entender nossas vantagens, Nem, quanto àqueles que o desfrutam, é o dia de cada um de clareza igual. Quão poucos em comparação já viram tal dia como Jerusalém neste momento viu, feito pelos raios do Sol da Justiça, nosso próprio Senhor oferecendo-se para ser o instrutor deles, falando como ne­nhum homem falou com tal autoridade que excedeu de longe os outros mestres e surpreendeu seus ouvintes. Em que arroubo Ele usou para deixar os que o ouviam, sempre que Ele vinha, pois eles se maravilhavam com as palavras graciosas que saíam da sua boca. Com que obras poderosas e benéficas Ele recomendou sua doutrina, bri­lhando no poder glorioso e saboreando da abundante misericórdia do céu, para que toda mente apreensiva pudesse ver a divindade encarnada. Deus desceu para trabalhar com os homens e fasciná-los com o seu conhecimento e amor. Por muitos anos não se viu dia como esse. Contudo, onde quer que o mesmo Evangelho vá, ali tam­bém se faz um dia do mesmo tipo e sempre proporciona a verdade, embora com luz diminuída, por meio da qual as coisas de nossa paz são entendidas e conhecidas. Por exemplo:
2.1.  Temos o estado verdadeiro e distinto da disputa entre Deus e nós. Os pagãos entendiam um pouco da apostasia do homem de Deus, de modo que Ele não está no mesmo estado em que estava no princípio. Mas ainda que entendessem que algo fora perdido, mal conseguiam dizer o quê. O Evangelho revela a depravação universal da natureza degenerada de todos os homens e de toda faculdade humana. O Evangelho pleiteia com os homens como rebeldes contra o seu legítimo Senhor. Mas desta traição contra a majestade do céu, os homens pouco suspeitam até que lhes seja dito. O Evangelho lhes fala tão claramente e representa o assunto em luz tão clara, que eles só precisam se contemplar nessa luz para que vejam que assim é. Os homens bem que podem, se quiserem, criar sem pestanejar escuridão entre a mais clara luz. Mas abra seus olhos, homem, você que vive sob o Evangelho, ponha-se a ver sua alma e você descobrirá que é dia para você. Você tem um dia, estando sob o Evangelho, e luz o bastante para ver que esta é a postura da sua alma e o estado do seu caso diante de Deus. E é de grande importância entender as coisas referentes à sua paz. para saber qual é o verdadeiro estado da disputa entre Deus e você.
2.2. O Evangelho proporciona luz para saber qual é o assunto desta disputa, se ela prosseguir e não houver reconciliação. Dá-nos outros relatos mais claros do castigo do outro mundo, o qual representa mais completamente a extremidade e perpetuidade das misérias futu­ras. Estes relatos nos ajudam a entender que acréscimo os hábitos inalterados e malignos dos homens trarão às suas misérias. Suas concupiscências e paixões ultrajantes, que aqui eles fizeram seu negócio de satisfação, tornaram-se seus atormentadores insaciáveis. Cada um receberá "segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal" (2 Co 5.1O). "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6.7). O que suas próprias reflexões culpadas contribuirão, as mordidas e suplício dos vermes que não morrem, as corrosões vene­nosas da víbora criada em seus seios, agora tornam-se serpente adul­ta; que sociedade e insulto dos demônios, com quem eles devem participar das aflições e tormentos, e por quem foram seduzidos e treinados nessa sociedade e comunhão amaldiçoadas.
2.3. Também representa Deus para você como reconciliável por um Mediador. Nesse Evangelho, a paz lhe é pregada por Jesus Cristo. Esse Evangelho deixa você ver Deus em Cristo, que reconcilia o mun­do com Ele. que o pecado pode não ser imputado a eles. Esse Evan­gelho proclama glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade aos homens. Assim as vozes dos anjos resumiram as alegres novas do Evangelho, quando o Príncipe da Paz nasceu no mundo. "Deus não deseja a morte dos pecadores, mas que eles se voltem e vivam"; de modo que Ele "quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2.4).

III. Este dia tem suas fronteiras e limites, de forma que quando terminar e estiver perdido como oportunidade, as coisas da paz são escondidas para sempre dos seus olhos. Que este dia não c infinito e interminável, vemos na instância atual.
Jerusalém teve seu dia; mas esse dia teve seu período. Vemos que finalmente chega a esse ponto, que agora as coisas da paz estão ocultas aos olhos dela. Vemos geral­mente a mesma coisa, quando os pecadores são tão seriamente pres­sionados a fazer uso do tempo presente. "Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração" (SI 957,8), e citado c exortado em Hebreus 3.8. Eles são admoestados a buscar o Senhor enquanto Ele pode ser encontrado, a chamá-lo enquanto Ele está perto. Às vezes, parece que Ele não será encontrado e está bem longe. É-lhes dito que este é o tempo aceitável, este é o dia da salvação.
Este dia, com qualquer lugar ou povo, pressupõe uma noite precedente, quando a aurora nas alturas não lhes tinha visitado o horizonte e todos se sentavam na escuridão e na região e sombra da morte. Houve um tempo, sabemos, de escuridão muito geral, quando o dia do Evangelho, 'o dia da visitação", não tinha ainda amanhecido no mundo, tempos de ignorância, em que Deus foi tolerante para com as nações da terra; os raios dos seus olhos passaram além delas. Mas quando as pálpebras da manhã se abrem sobre um povo e a luz brilha sobre eles com raios diretos, eles recebem a ordem de se arre­penderem. Eles são limitados a este ponto do tempo com tal peremptoriedade, como aquele nobre romano usou para com um príncipe orgulhoso, pedindo tempo para deliberar na proposta que lhe fora feita de retirar as forças que molestavam alguns dos aliados daquele Estado. Com a ponta da vara, ele desenhou uma linha em torno de si e exigiu que, antes que se mexesse para sair daquele círculo, o príncipe fizesse sua escolha, se seria amigo ou inimigo do povo de Roma. Assim os pecadores devem entender a seriedade da situação em que se encontram. O Deus da sua vida, pecador, em cujas mãos estão os tempos, traça com muito mais acerto o seu limite ao tempo presente, e espera sua resposta às ofertas e exigências jus­tas e misericordiosas que Ele faz. Ele circunscreve o seu dia da graça; está incluso em ambas as partes, e tem uma noite como também uma manhã; como teve um precedente, assim tem uma noite subseqüente. e o último, se não for mais escuro, é normalmente muito mais turbu­lento que o primeiro. Deus encerra esse dia com muito desgosto, o qual tem efeitos terríveis. Se não fosse expressamente dito a você qual é a condição daquela noite que segue o dia do Evangelho; se fosse perguntado ao vigilante: "Que noite?", ele só responderia que vem como também a manhã veio, eventos tenebrosos são significa­dos por esse mais terrível silêncio. Ou é tudo um, se você o chamar de um dia; há o bastante para distingui-lo do dia da graça. As Escri­turas chamam tal estação calamitosa indiferentemente pelo nome de noite ou dia-, mas o fato de o último nome ser usado com um ou outro suplemento para significar dia, não quer dizer no sentido agradável ou mais grato: um dia da ira, um dia mau, um dia de escuridão e trevas espessas, não diferindo da noite mais escura; e para dizer que a manhã de tal dia está vindo, é tudo um como a noite que vem de um dia brilhante e de um dia sereno.
3.1.  Que há grande diferença entre os fins e limites do dia ou esta­ção da graça quanto a indivíduos em particular e em referência ao corpo coletivo de um povo que habita determinado lugar.
3.2.  Quanto a ambos há uma diferença entre o fim de tal dia, intermissões ou intervalos escuros que possam haver nele. O Evangelho pode ser retirado de tal povo e ser restaurado.
3.3. Quanto a indivíduos em particular, pode haver muita diferença entre eles. Por exemplo, se, quando viviam sob o Evangelho, obtive­ram o conhecimento das principais doutrinas ou da suma ou substân­cia do Cristianismo, embora sem qualquer efeito santificador ou im­pressão em seus corações, e se, por negligência própria, viveram sob o Evangelho em total ignorância desse fato. O dia da graça pode não ter terminado para o primeiro grupo, embora nunca vivam novamen­te sob o ministério do Evangelho. Considerando que, com o outro tipo, quando esses indivíduos já não desfrutam os meios externos, é provável que o dia da graça haja terminado, de forma que não haja mais esperança no caso deles do que no dos pagãos nas regiões mais escuras do mundo; e talvez muito menos, como sua culpa tem sido muito maior pela negligência de tão grandes e importantes coisas.

IV. Se com qualquer um que viveu sob o Evangelho, o seu dia acabou, e as coisas da paz estão agora para sempre ocultas dos seus olhos.
Isto em si mesmo é caso muito deplorável e muito lamentado por nosso Senhor Jesus. Que o caso é em si mesmo muito deplorável, quem não vê? Uma alma perdida, uma criatura capaz de Deus, a caminho dEle, perto do Reino de Deus, naufragado no porto! Peca­dor, de quão alta esperança você caiu! Em que profundidade de misé­ria e aflição! E o fato de que foi lamentado por nosso Senhor está no texto. Ele viu a cidade e chorou sobre ela.
E agora consideraremos que uso devemos dar a tudo o que vi­mos. Embora nada possa ser útil aos próprios indivíduos, a quem o Redentor lamenta como perdidos, contudo o que Ele faz pode ser de grande proveito para os outros.
O proveito que, em parte, dirá respeito àqueles que o apreendem corretamente, não é o caso deles, e, em parte, tal pode ser em grande temor que seja.
Pois terem razão de se persuadir não é o caso: A melhor base sobre a qual podemos concluir com certeza, é que nesse dia, eles, pela graça de Deus, já conheceram efetivamente as coisas da sua paz, pois sinceramente, com todo o coração e alma, se voltaram para Deus, tomaram-no para ser o seu Deus e se dedicaram a Ele, a fim de serem dEle; confiando e sujeitando-se à misericórdia salvadora e poder governante do Redentor, de acordo com o sentido do concerto do Evangelho, do qual eles não deixam que seu coração se desvie ou recuse, mas resolvem, com a ajuda divina, perseverar nele todos os dias. Agora havendo chegado a esta confortável conclusão sobre es­sas coisas, só me resta dizer:
Regozije-se e queira Deus que assim seja. Cristo, seu Redentor, regozija-se com você e em você, o que se deduz diante de sua indignação quanto aqueles que estão sem esperança. Se Ele chora sobre eles, Ele, sem dúvida, regozija-se em você. Há alegria no céu em relação a você. Os anjos se regozijam, o seu Redentor glorioso presi­dindo no concerto jovial. E você não se regozijaria por você mesmo?
Porte-se com esse cuidado, cautela e zelo, que tornam-se um es­tado de reconciliação. Perceba que sua atual paz e amizade com Deus não é original e contínua a partir disso, mas foi interrompida e parti­da; que sua paz não c a das pessoas constantemente inocentes. Você não está neste estado bom e feliz, porque nunca ofendeu, mas está na qualidade de reconciliado, que outrora era inimigo. E quando, em sua vida, você chegou ao conhecimento das coisas que pertencem à paz, você sentiu a dor e experimentou a amargura de ter sido aparta­do e feito inimigo em sua mente pelas más obras. Quando os terrores de Deus o cercaram e suas setas cravaram em você em rápida suces­são, você não encontrou dificuldade e tristeza? Você não estava em expectativa temerosa de ira e ardente indignação a ponto de consu­mi-lo e queimá-lo como adversário? Você não teria dado o mundo inteiro por uma palavra ou um olhar de paz, por alguma esperança bruxuleante de paz? Quão cauteloso e amedrontado você estaria de uma nova brecha! O quanto você estudaria comportamentos aceitá­veis para andar digno de Deus até ficar completamente bem aceitá­vel! Quão estritamente cuidadoso você seria em manter a fé com Ele e ficar firme no concerto com Ele! Quão preocupado pelos seus inte­resses e em que agonias de espírito, quando você visse as erupções ou inimizade contra Ele vindo de outra pessoa, não uma desconfian­ça ou medo de preconceito final aos seus interesses, mas a apreensão da injustiça da própria coisa e um amor obediente ao seu nome. trono e governo. Quão zeloso você seria a atrair outras pessoas! Quão fervoroso em seus esforços dentro de sua própria esfera de ação e quão amplo em seus desejos estendidos até à esfera do universo de que todo joelho se dobrará e toda língua o confessará!
Mais clamor sincero a Deus e rogos com Ele pelo seu Espírito, por quem o vital vínculo unitivo deve ser contraído entre Deus e Cristo e suas almas. Assim, este será o concerto de vida e paz. Senhor! O quanto os cristãos de nossos dias se enganam com uma religião de­senvolvida súbita e inesperadamente por si mesma! Com efeito, divi­na em sua instituição, mas meramente humana em relação à radicacão e exercício: em cujo aspecto também deve ser divina ou nada. Ainda temos de aprender que um poder divino tem de trabalhar e formar nossa religião em nós, como também a autoridade divina a dirige e a ordena? É em vão que todas essas escrituras nos dizem que é Deus que tem de criar corações novos e renovar espíritos retos em nós; que é Ele que tem de nos fazer voltar, se algum dia nos voltar­mos: que nunca podemos ir a Cristo a menos que o Pai nos leve? Não há causa de desânimo, se você considerar o que foi dito antes neste discurso. "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis: batei, e abrir-se-vos-á" (Lc 11.9). O seu Pai celestial dará o seu Espírito àqueles que pedirem, mais prontamente que os pais dão pão aos filhos, e não uma pedra. Mas, e se vocês tivessem de pedir muitas vezes e esperar muito tempo, isso apenas encareceria mais o presente e mostraria seu alto valor. Você deve lembrar com que freqüência você agravou, re­sistiu e afrontou este Espírito, e que você fez Deus esperar muito tempo por você. O que ocorreria se o absoluto Senhor soberano de todos esperasse que você ficasse à disposição dEle? Ele espera para ser gracioso, e benditos são os que esperam por Ele. Renove suas aplicações a Ele. Coloque, de quando em quando, esse concerto di­ante de você. com o qual você mesmo deve chegar a uma plena e definitiva conclusão. E se não for feito de uma vez, tente novamente, e vezes sem conta. Lembre-se de que é por sua vida, por sua alma, por você. Mas não se satisfaça apenas com tais movimentos lânguidos em seu interior, que podem ser os únicos efeitos do seu espírito, do seu coração negro, torpe, apático, lerdo, morto, duro, pelo menos não da influência eficaz e regeneradora do Espírito divino. Você nun­ca ouviu que operações poderosas ocorreram em outros, quando Deus os transformava, renovava-os e atraía-os em união viva consigo mesmo, e Ele mesmo por Ele? Que surpreendente luz penetrante entrou no coração deles, como quando Ele criava o mundo, iluminando o caos. Como Ele os fez ver coisas que dizem respeito a eles como verdadeiramente eram, e cada um com seu próprio rosto, Deus, Cris­to e eles, pecado e dever, céu e inferno, com suas verdadeiras apa­rências. Quão efetivamente foram despertos! Como os terrores do Todo-Poderoso atacaram e agarraram suas almas! Que agonias e do­res excruciantes eles sentiram, quando a voz de Deus lhes disse: "Des­perta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá" (Ef.5.14). Como Ele os derrubou aos seus pés, lançou-os no pó, quebrou-os, dissipou-os, fez se humilharem, se abominarem e se detestarem, encheu-os de tristeza, vergonha, confusão e indigna­ção para com suas próprias almas culpadas, habituou-os a uma seve­ridade contra si mesmos, até que alcançassem por si só uma maior perspicácia, como também uma auto-acusação, auto-julgamento e auto-condenação. Ele até os fez pretender o inferno e confessar que a porção dos demônios que lhes pertencia era sua mais merecida por­ção. E se agora seus olhos tinham sido dirigidos a um Redentor, e um brilho de esperança lhes aparecera; se agora eles são ensinados a reconhecer o Deus que lhes diz: "Pecador, tu ainda estás disposto a se reconciliar e aceitar um Salvador?'' Que arroubo ao qual esta pergunta os põe! É vida dentre os mortos! O quê? Há esperança para um mise­rável perdido como eu? Quão doce é esse enternecedor convite! Que agradável intimação traz consigo: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Se o Senhor do céu e da terra olha do trono de glória e diz: "O quê! Pecador, tu menosprezarás meu favor e perdão, meu Filho, teu Redentor podero­so e misericordioso, e ainda minha graça e Espírito?" — Qual será a resposta do miserável e envergonhado, intimidado pela glória da majestade divina, aguilhoado com compunção, vencido com a intimação da generosidade e do amor? "Com o ouvir dos meus ouvi­dos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" Jó 42.5,6). Tão interiormente é a verdade desta palavra agora sentida: "Que tu te lembres e fiques con­fundido e nunca mais abras a boca por causa de tua vergonha, quan­do eu sou pacificado para ti, por tudo o que fizeste, disse o Senhor Deus". Mas pecador, você fará um concerto comigo e meu Cristo? Você me tomará por seu Deus, e Ele por seu Redentor e Senhor? E posso, Senhor? Ainda posso? Graça admirável, misericórdia comedida e maravilhosa por eu não ter sido lançado no inferno com minha primeira recusa. Sim, Senhor, com todo o meu coração e alma eu renuncio as vaidades de um mundo vazio e enganador e todos os prazeres do pecado. Em seu favor está a minha vida. "A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti" (Si 7325). E, bendito Jesus, Príncipe dos reis da terra, que me amaste e me lavaste dos meus pecados em teu sangue, e a quem o Deus eterno exaltou para ser Príncipe e Salvador, dar arrependimento e remissão de pecados, eu me prostro diante de ti, meu Senhor e meu Deus; eu, aqui, de boa vontade presto minha homenagem diante do teu trono. Eu tomo a ti como Senhor de minha vida. Eu me rendo absolutamen­te e me resigno a ti. Teu amor me constrange a, daqui por diante, não mais viver para mim mesmo, mas para ti, que morreste por mim e ressuscitaste. E eu me sujeito e me rendo à tua bendita luz e poder, Espírito Santo da graça, para ser cada vez mais iluminado, santificado e preparado para toda boa palavra e obra neste mundo, e para uma herança entre os que são santificados no outro mundo. Pecador, nun­ca permita que sua alma descanse até que você a encontre em comu­nhão com Deus; assim você pode verda­deiramente dizer e sentir que seu coração está nisto. Não fique cansa­do ou impaciente, esperando e esforçando-se, até que você diga que este é hoje o verdadeiro sentimento de sua alma. Tais coisas foram feitas no mundo; (mas o quanto é raro nos últimos dias!) assim Deus trabalhou com os homens, para salvá-los de descer à sepultura, de­pois de haver encontrado um resgate para eles. E por que não se espera que Ele faça isso? Ele feriu rochas e fez as águas verterem; sua mão não está encurtada, nem seu ouvido agravado. O perigo não é. pecador, que Ele venha a ser inexorável, mas que você o seja. Ele deixará que você rogue, se você prevalecer suplicando seu favor de todo o coração.
Não jogue fora a alma e tão grande esperança por mera indolên­cia e preguiça de sentir um pouco de dor por sua vida. Deixe que o texto, que foi seu diretório sobre as coisas que pertencem à paz, seja também o seu motivo, de modo que você veja o Filho de Deus cho­rando sobre tais coisas como se não soubesse delas. As lágrimas do Redentor não o comoverão? Coração duro! Considere o que estas lágrimas importam para este propósito:
4.1. Significam a real profundidade e grandeza da miséria na qual você está caindo. Elas vertem de olhos intelectuais e mais abrangentes que vêem longe, penetram profundamente as coisas, têm um prospecto amplo e grande e tomam o consolo daquele estado abandona­do para o qual os pecadores irreconciliáveis dirigem-se às pressas, com todo o horror que isso significa. O Filho de Deus não chorou lágrimas vãs e sem causa ou por coisa insignificante; nem esgotou lágrimas por si mesmo ou desejou a profusão de lágrimas de outrem. "Filhas de Jerusalém, não choreis por mim". Ele sabe o valor das almas, o peso da culpa e o quanto isso os pressionará para baixo e os afundará; como também a severidade da justiça de Deus, o poder da sua ira e quais serão seus terríveis efeitos, quando finalmente caírem. Se você não entende estas coisas, creia no Deus que o fez. Pelo menos creia nas lágrimas dEle.
4.2.  Estas lágrimas significam a sinceridade do seu amor e piedade, a verdade e ternura da sua compaixão. Você acha que suas lágrimas são enganosas, aquEle que nunca conheceu malícia? Isso era como o restante do seu comportamento? E lembre-se de que aquEle que der­rama lágrimas, da mesma fonte de amor e misericórdia também derra­mou sangue. Isso também foi feito para enganar? Você cometeu algu­mas coisas realmente muito consideráveis, se acha que valeu a pena o Deus encarnado chorar, sangrar e morrer, a fim de ludibriá-lo numa falsa estima dEle e do seu amor. Mas se é a maior loucura imaginável entreter tal pensamento, senão que suas lágrimas eram sinceras e não artificiais, as genuínas expressões naturais de benignidade e piedade francas, você deve considerar contra que amor e compaixão você está pecando, que entranhas está repulsando. Se você perecer, é sob tal culpa que os próprios demônios não estão sujeitos, pois nunca tiveram um Redentor que sangrasse por eles, ou, pelo que saibamos, que chorasse sobre eles.
4.3.  Estas lágrimas mostram a irreparabilidade do seu caso, se você persistir na impenitência e incredulidade, até que as coisas da paz sejam totalmente escondidas dos seus olhos. Estas lágrimas serão as últimas emissões de amor (até mesmo derrotado), de amor que está frustrado de seu terno desígnio. Você percebe nestas lágrimas as leis do céu inalteráveis e firmes, a inflexibilidade da justiça divina, que o mantém em laços inexoráveis e selado — se você provar-se incurávelmente obstinado e impenitente — à perdição. Pois até o próprio Redentor, que é poderoso para salvar, não pôde, por fim, salvá-lo, mas apenas chorar sobre você, lágrimas derramadas em cha­mas que atormentam você, sem suavizá-las; mas as lágrimas (embora tenham outro desígnio, até expressar verdadeira compaixão) ainda exacerbam e aumentam inevitavelmente o seu fervor, e continuará assim por toda a eternidade. Ele até chega a dizer a você, pecador:
"Tu desprezaste meu sangue; tu ainda terás minhas lágrimas". O que teria salvado você agora só lamenta sua perda.
Mas as lágrimas choradas sobre outros, como perdidos e sem es­perança, por que não comoveriam você, enquanto ainda há esperan­ça em seu caso? Se você for efetivamente comovido em sua alma, e, olhando àquEle a quem você traspassou, verdadeiramente chora so­bre Ele, você assegura para si a perspectiva de que o choro dEle sobre as almas perdidas não incluiu você. O seu choro sobre você arrazoaria seu caso abandonado e sem esperança; a sua lamentação sobre Ele o tornará seguro e feliz. Que seja assim, e considere ainda que:

4.4. Estas lágrimas significam o verdadeiro intento que Ele tem de salvar almas e com que alegria Ele o salvaria, se você tão-somente aceitasse a misericórdia, enquanto fosse possível. Pois se Ele chora sobre aqueles que não serão salvos, do mesmo amor que é a fonte destas lágrimas, provêem misericórdias salvadoras para aqueles que desejam recebê-las. E o amor que chorou sobre os que estavam per­didos, o quanto glorificará sobre os que estão salvos! Ali o seu amor é desapontado e afrontado, contraditado em seu propósito gracioso; mas aqui, tendo-o rodeado, o quanto Ele se alegrará sobre você com cântico e descanso em seu amor! E você também, em vez de ser envolvido com os irreconciliados pecadores da velha Jerusalém, será citado entre os cidadãos gloriosos da Nova Jerusalém, e triunfará jun­to com eles em glória eterna.


Atte.

Pr.Dr. Wagner Teruel


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