Figuras
do diálogo teológico-psicanalítico
Sigmund
Freud desenvolveu a psicanálise na terapia de indivíduos doentes. Mais, com o
passar do tempo, ele se interessou mais pelos condicionamentos sócio-psicologicos
e culturais das doenças. Apesar de ser extremamente cuidadoso ao transferir os
padrões das doenças individuais para a sociedade, ele manteve condições determinantes
sob constante investigação. Esse cuidado é menos percebido em seus seguidores,
como N.O. Brown, H.Marcuse e E.Fromm. Sua analise da sociedade, com a ajuda dos
padrões das doenças individuais, geralmente sobe para as nuvens da especulação
e não possui efeito terapêutico. Aqui está um limite da psicoterapia que deve
ser observado, se uma metapsicologia não verificável pretende ser evitada: a
analise demonstra a doença da sociedade pelo exemplo do homem doente, mais a
terapia só pode começar com o individuo. Isso não a torna superflua, já que
pessoas doentes não podem ser consoladas pela promessa de um cura posterior da
sociedade como um todo. Porem, a terapia deve estar ciente dessa limitação da
sua potencialidade, na qual círculos viciosos psicológicos estão ligados a círculos
viciosos na sociedade e na política. A transferência de padrões de doenças
individuais para a sociedade como um todo não é mais importante que a transferência
de uma critica da sociedade para um caso individual. As dimensões são
diferentes. Elas se condicionam reciprocamente, de maneira complexa. Elas só
podem ser reduzidas de uma para a outra em casos raros. Como na maioria dos
contextos históricos, derivações de uma causa só não fazem nenhum sentido.
Freud
nunca entrou em uma discussão séria com a teologia dos teólogos da época, sua
critica da religião é dirigida à formas “externas da religião” e “ao que o
homem comum entende por religião”. Ele estava interessado nas regras
religiosas, e nos ritos, e nos símbolos e em suas funções psicológicas; ou
seja, nas formas religiosas, e seus pontos de interseção no individuo e na
sociedade. As experiências religiosas dos seus pacientes era limitadas à
religião vitoriana da Viena de sua época, e ao mundo burguês do século XIX. Mais,
os seus próprios problemas religiosos foram, além disso, para uma “religião
mosaica”, como foi chamada na época, da sua família, e do judaísmo. Ele era,
então, fascinado pela figura de Moises por tradição, na forma da estatua de
Michelangelo, em San Pietro, em Vincoli,
e no nível do seu próprio sentimento interior de culpa, que o fez falar sobre o
“profeta assassinado”. Ele estava cada vez mais restrito quanto à religião
cristã, pois sentia que não podia compreende-la. Porem, Freud descobriu formas
patológicas de uma religião privada, que ocorrem entre homens que foram
influenciados pelos judaísmo e pelo cristianismo e, de fato, além disso. Sua critica
à religião foi atiçada pelo seu interesse pela cura e pela libertação.
Há
inúmeros padrões diferentes na conversa entre a psicoterapia e a teologia:
A – A Fé
cristã pode se identificar com aquilo que Freud criticou como “religião” ou
como a “caricatura da religião”. Nesse caso, ele é considerado o “pior inimigo
da religião”, por Marx, uma posição com a qual ocasionalmente concordava. Contudo,
um cristianismo que se identifica com a religião, à medida que é atacado e
criticado dessa maneira, entregou a sua própria critica da religião. O melhor
curso apologético para uma teologia religiosa equivalente seria não rejeitar
Freud como um irreligioso, mais demonstrar em sua critica à religião, as
implicações religiosas que ele mesmo criticou. Se essa teoria é condicionada
pela religião, ela não leva a uma dissolução da religião ao alcance da razão,
mais representa uma deslocação do elemento religioso. Essa forma de contra
critica apologética, que busca demonstrar recalques do pensamento religioso ao
pensamento irreligioso, foi evidentemente tomada pelo posivitismo hoje. Isso ocorre
de maneira rara na teologia. Assim como H.Albert e E. Topitsch acusaram a
escola de Frankfurt e sua teoria critica de pensamento “quase-teológico” – não sem
certo grau da verdade – assim também D. Wyss fez essa observação sobre Marx e
Freud.
“...Não pode ser coincidência que Marx e
Freud fossem família com a gênese do AT... em ambos a supressão da religião e
suas declarações sobre um inicio violento e um final utópico... Parecem emergir
novamente em elementos religiosos característicos das concepções míticas e em
padrões estereotipados, que, no entanto, não podem ser verificados em termos científicos.
É um retorno aquilo que foi recalcado. Aqui os ateístas Marx e Freud se tornam
vitimas dos seus próprios recalques...”
A critica da
religião encontra dificuldade em escapar do mover escatológico do seu conteúdo.
Teólogos que sentem que devem defender a religião cristã contra Freud e
positivistas que querem se livrar da religião e da critica da religião,
deveriam, no entanto, reconhecer que Freud não identificou religião como
neurose. Ele simplesmente viu a neurose como “uma caricatura da religião”, da
mesma maneira com que viu a histeria como a caricatura da arte e a paranoia
como a caricatura da filosofia. É, portanto, mais apropriado levar a critica de
Freud de maneira positiva, a fim de libertar a fé da caricatura dos jogos
patológicos que aparecem na superstição.
B – Se pretende
se cristã, a fé cristã deve constantemente distinguir entre sua própria forma
de religião e sua natureza particular, e faze-lo de maneira autocritica. Nesse caso,
a fé não é o mesmo que religião, mais geralmente tem a mesma relação com a
religião burguesa e com a religião privada, como Iahweh para Baal, como o
crucificado para o príncipe deste mundo, como o Deus vivo para os ídolos da
ansiedade. A serviço dessa distinção, a teologia cristã pode adaptar a critica
de Marx à religião, de modo a separar a comunhão com Cristo do fetichismo
capitalista burguês do ouro e dos bens de consumo, podendo adotar a critica de
Freud à religião, a fim de separar a fé libertadora da superstição religiosa do
coração. Nesse caso, essa critica da religião é considerada como “aqua fortis” de modo a revelar o ouro da
verdadeira fé da escoria da religião, que passou pelo fogo da critica. Essa é a
maneira pela qual Karl Barth distingue entre fé e religião, no momento da
teologia dialética: “Religião é descrença, superstição e idolatria”. P.
Ricoeur, G. Crespy e R. de Pury, o seguem nisso e usam Freud como um trator
para abrir o caminho para o evangelho. O evangelho e a critica da religião
tratam de matar o “Deus” que os homens trazem ao mundo. De fato, essa constelação
de “fé contra a religião” tem um antecessor bíblico na critica profética da
religião e, acima de tudo, na adoração cristã do Cristo que foi crucificado
como um blasfemo. Por outro lado, a critica iluminista dos ídolos, desde os
tempos de Bacon, teve sua base no impacto do AT na proibição contra as imagens.
A proibição contra se fazer imagens e semelhanças, se curvando a elas e
adorando-as, tem o objetivo de proteger a liberdade de Deus e a liberdade da
sua imagem em todo homem. Essa liberdade é perdida onde os preconceitos da
tradição ou as ideias fixas da ideologia mantem cativa a compreensão do homem. Ela
é perdida onde homens adoram suas próprias obras e se curvam perante suas próprias criaturas,
e onde os objetos que fizeram ganham poder entre eles. O esclarecimento dos
preconceitos é, portanto, uma libertação da tutela da tradição. O esclarecimento
das condições alienadas da obra é a libertação da escravidão que elas impõem. O
esclarecimento de complexos psicológicos, recalques e ilusões, corresponde a
esses movimentos direcionados à liberdade por meio da iconoclastia.
C – É teologicamente
legitimo aceitar a critica de Freud à religião, como uma negação do negativo, a
fim de apresentar um verdadeiro positivo; porem, uma mera distinção entre a fé
e suas caricaturas na religião publica e privada, geralmente levam a nada mais
que uma não observância e recalque desses fenômenos religiosos. A fim de
vence-las, é necessário te-las compreendido. Não é o bastante atribuir tais fenômenos
neuróticos da religião ao mal,
combatendo-os mantendo-se próximo a Jesus. Também é necessário descobrir porque
o homem é evidentemente tão “incuravelmente religioso” (como supôs Berdyaev),
de modo que ele não pode existir sem certas ações e ideias obsessivas, sem “algo
que possa se apegar”, e ainda permanecer são. De fato, as obsessões protegem
alguns pacientes de psicoses e da perda de realidade. Há formulações de padrões
psicológicos que estilizam experiências positivas e negativas. A formação do
padrão narcisista oferece tanto proteção, quanto perigo, ao acomodar as inevitáveis
idealizações positivas e negativas, que derivam ser quebradas em uma explosão de
iconoclastia sem sentido. Isso não traria cura ao paciente, isso faria da
iconoclastia uma obsessão fatal.
Uma tentativa
de mediar entre os elementos da verdade nos dois padrões sugeriria que seria
importante primeiro “aceitar a critica de Freud à religião, como uma tentativa
de estender as condições humanas de compreensão às dimensões do inconsciente,
para adota-la e compreender sua psicanalise como um “método de encontro de
significado”. Porem, nesse caso, devemos perguntar como o home é possuído por
desejos e ilusões, tornando-se, portanto, apático, pode ser liberto na situação
do Deus crucificado, podendo desenvolver sua humanidade. À critica de Freud à religião deveria fazer
mais que simplesmente ajudar a fé cristã a ser uma compreensão melhor e mais
critica de si mesma. Sua psicanalise também deve lhe mostrar as barreiras psicológicas
na qual ela pode exercer seu poder
libertador. O homo sympatheticus
deveria ser trazido ao campo da força do pathos
de Deus e ao sofrimento de Cristo, onde formações de padrões condenam o homem a
uma vida de apatia.
Atte.
Pr.Dr. Wagner Teruel
Phd.Db.Dee.Mth.Mcr.Thb\Lic
Nenhum comentário:
Postar um comentário