quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O Deus que diz “EU SOU” o mistério do nome hwhy YHWH

O Deus que diz “EU SOU” o mistério do nome  hwhy YHWH
Samuel Josef Agnon, ganhador do premio Nobel de literatura, conta como Rafael, um escriba da Torá cuja missão era copiar à mão os sagrados rolos, cada vez que chegava a uma passagem do texto original que continha a palavra hwhy YHWH, deixava um espaço em branco, o qual só completava depois de ter realizado uma serie de rituais especiais de purificação. Um procedimento tão complicado pode soar estranho ao ouvidos sul americanos, pois ilustra com perfeição a singular importância de hwhy YHWH, entre os demais nomes divinos da Bíblia. Trata-se do mais sagrado de todos eles, aquele sobre o qual o apostolo Paulo diz que é “O NOME QUE ESTÁ ACIMA DE TODO NOME” (Fp.2:9), mas também o mais comumente empregado, pois aparece 6828 vezes na Bíblia independentemente da versão.
Hoje vamos estudar hwhy YHWH sobre três aspectos:
1 – A parte histórica: No que se refere ao origem do Nome,
2 – Aspectos Filológicos: Relativos ao significado deste Nome Divino e,
3 – Questões Teológicas: O que este Nome pode ter evocado no antigo Israel.
Naturalmente, os três enfoques estão relacionados entre si de forma profunda, mas vou tentar simplifica-los para que fiquem mais claros. Antes, porem, quero me deter em alguns aspectos prévios, entre os quais incluem o caráter sagrado deste nome divino, o empego de palavras substitutivas e os textos mais importantes relativos à hwhy YHWH (Ex.3 e 6).
1 – Um Nome Sagrado a parte histórica: Por que encontramos “O SENHOR” nas traduções da Bíblia?
À medida que os Judeus começaram a considerar que o nome hwhy YHWH era sacrossanto, deixaram de pronunciá-lo, até o ponto que sua dicção se tornou duvidosa e hoje os estudiosos não entram em um acordo a esse respeito. Não se pode dar uma data exata desse processo, mas parece ter ocorrido na época do exilio.
Pensemos na santidade do Nome, no livro de Levitico encontramos um relato da briga entre dois israelitas, durante a luta, um dos contendentes “BLASFEMOU E ALMALIDÇOOU O NOME DO SENHOR”. A gravidade da falta fica evidente pelo castigo que acarretou, o ofensor foi condenado, de acordo com os princípios da lei sagrada, sancionada pela mesma divindade.
“...Aconteceu que o filho de uma israelita e de um egípcio saiu e foi para o meio dos israelitas. No acampamento houve uma briga entre ele e um israelita; O filho da israelita blasfemou o Nome com uma maldição; então o levaram a Moisés. O nome de sua mãe era Selomite, filha de Dibri, da tribo de Dã; Deixaram-no preso até que a vontade do Senhor lhes fosse declarada; Então o Senhor disse a Moisés: "Leve o que blasfemou para fora do acampamento. Todos aqueles que o ouviram colocarão as mãos sobre a cabeça dele, e a comunidade toda o apedrejará; Diga aos israelitas: Se alguém amaldiçoar seu Deus, será responsável pelo seu pecado; quem blasfemar o nome do Senhor terá que ser executado. A comunidade toda o apedrejará. Seja estrangeiro, seja natural da terra, se blasfemar o Nome, terá que ser morto...” (Lv.24:10-16 NVI).
A consciência da Sagrada Santidade do nome se manifesta na tendência a se referir a Deus empregando mihole  Elohim em vez de hwhy YHWH. O uso é claro nas passagens paralelas dos livros de Cronicas e de Reis e em um grupo especial de Salmos  tratamento especial desse nome, que em alguns textos não aparece na caligrafia contemporânea da cópia, uma maiúscula quadrada, mais sim em um alfabeto mais antigo tipo epigráfico: o efeito é o mesmo de quando incluímos no meio de um texto um impresso atual, isto quer dizer que os escritores últimos que esconderam seus escritos nas cavernas de Qnram sequer citavam o nome sagrado por medo de blasfemar, em alguns casos colocavam apenas quatro pontos .... para memorar o nome sagrado.
Na Mishná, a “TRADIÇÃO DOS ANTEPASSADOS”, se escreve acerca dos pecadores que perderam o direito à vida futura, entre eles estão os que negam a ressurreição dos mortos e o caráter divino da lei, mas também os que pronunciam o nome santo. Essa recopilação da tradição legal é datada dos primeiros séculos da nossa era.
O que se fazia então quando na Sinagoga, lendo um texto em voz alta se chegava na passagem que continha a palavra hwhy YHWH? Naturalmente deveria ser substituído por outro nome menos “CARREGADO” do significado, e a escolha comum era a palavra hebraica yanoda ADONAY que significa “O SENHOR”. Ou seja, cada vez que lendo se chegava a hwhy YHWH  se substituía por yanoda ADONAY, o que explica por que onde o texto hebraico simplesmente continha o nome sagrado, nas traduções da Bíblia aparece “O SENHOR”.
Para eliminar a possiblidade de leituras incorretas, os judeus começaram a vocalizar o hwhy YHWH do texto hebraico com as vogais da palavra yanoda ADONAY, este processo ocorreu entre os séculos VI e X dC. sob a direção dos massoretas. É importante, pois, ter claro que a vocalização de hwhy YHWH que aparece na Bíbli hebraica não serve para elucidar o assunto da pronuncia, já que pertence a outra palavra absolutamente diferente, yanoda ADONAY. Ainda assim, alguns estudiosos musturaram as consoantes do tetragrama com as vogais de Adonay, e leram o resultado como JHEOVAH, um nome que teve notável popularidade até o fim do século passado. Os israelitas nunca empregaram tal nome.
Desta forma podemos resumir que hwhy YHWH termo usado na Bíblia hebraica. yanoda ADONAY entretanto, era falado dado a santidade do nome. A mistura das vogais e consoantes para a formação do nome JHEOVAH se deu na idade média, esta forma artificial nada tem a ver com o nome bíblico do Deus de Israel.
Vimos como, no curso do tempo hwhy YHWH chegou a ser considerado muito sagrado para ser pronunciado e foi substituído por yanoda ADONAY, “O SENHOR”. Ocasionalmente esta resistência ao uso de hwhy YHWH é claro no NT. Jesus apresenta o filho prodigo dizendo: “...Pai, pequei contra os céus e contra tí...” (Lc.15:21), uma frase em que o nome sagrado foi substituído pela palavra “CÉU”, isto é chamado de recurso de formas passivas. Chegando a esse ponto, convém tratar o emprego do termo grego: Kyrios Kyrios, referido a Jesus, como sabemos, essa palavra significa “SENHOR”, e é de especial importância para um correto entendimento da Cristologia do NT. comparar o uso Kyrios Kyrios, com a pratica do AT. desde o momento em que parece clara a relação Kyrios Kyrios com yanoda ADONAY e, portanto, com o nome mais santo hwhy YHWH. Um texto chave de Filipenses 2:5-11, que é descrito como um hino a Cristo ou uma peça didática de caráter retorico-pedagógico. A passagem conta de três estrofes  das quais a primeira descreve a pre-existencia de Cristo, a segunda fala da encarnação de Cristo sua vida humana e morte, e a terceira proclama a exaltação de Cristo de um modo significativo para nossos propósitos.
“...Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai...” (Fp.2:9-11 NVI).
Neste texto, para o escritor do sagrado não bastou empregar a forma grega comum hypsóo  hypsóo que significa “HONRAR”, “EXALTAR”, mais ele preferiu uma palavra com o prefixo hyper hyper, um intensiva dor que nos soa familiar em termos como: HIPERSENSIVEL, HIPERTENSO, entre outro. Costuma-se dizer, além disso, que Cristo recebeu “O NOME QUE ESTÁ ACIMA DE TODO NOME” (v.9), um comentário que se esclarece com a precisão de que toda a língua proclamará que o Senhor é Jesus Cristo. Jesus, portanto, através da revelação escrituristica do apostolo Paulo no referido texto, é o mesmo Deus do AT.
Que Jesus é Kyrios Kyrios, ou seja, SENHOR, é uma das primeiras afirmações dos cristãos: “...Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo...”  (Rm.10:9 NVI); “...Por isso, eu lhes afirmo que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: "Jesus seja amaldiçoado"; e ninguém pode dizer: "Jesus é Senhor", a não ser pelo Espírito Santo...” (1Co.12:3 NVI).
É importante observar que a pista desta confissão de Jesus pode ser seguida até as mais antigas comunidades judaico-cristãs da Palestina, e o fio que nos leva até ela é a expressão MARANATA (do original em hebraico מרנא תא, maranâ tâ, "vem, Senhor!") é uma expressão aramaica que ocorre duas vezes na Bíblia.
Em resumo: entre os nomes de Deus no AT. o nome hwhy YHWH é singular na medida em que com o tempo foi considerado sagrado, e na pratica foi deixado de pronunciar, substituindo-o pela palavra yanoda ADONAY, com o sentido de “O SENHOR”. Isto explica porque as traduções modernas da Bíblia remetem a “O SENHOR” “THE LORD”, “DER HERR”, “LE SEIGNEUR” naquelas passagens da Bíblia Hebraica onde se menciona o mais sagrado dos nomes. É claro que esta forma de “reproduzir” o nome de Deus só serve para ressaltar ainda mais seu mistério e perpetuar o segredo que o nome divino encerra.   
Na próxima semana daremos continuidade e nos aprofundaremos mais nas perspectivas histórica, filológica e teológica. Deus os abençoe ricamente.


Atte.


Pr.Dr. Wagner Teruel

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